Working paper 14: Práticas de aquisição de alimentos e do comer no Brasil em tempos de pandemia
A pandemia da Covid-19 impactou as relações sociais, inclusive sobre as dinâmicas associadas à alimentação. O presente trabalho tem por objetivo identificar e analisar alterações nas práticas de aquisição de alimentos e do comer nos domicílios brasileiros no primeiro ano da pandemia. As análises se baseiam em dados de pesquisa representativa da opinião pública brasileira realizada por meio de coleta telefônica, entre os dias 21 de novembro e 19 de dezembro de 2020. Os resultados apontam para mudanças nas práticas de aquisição e do comer, com redução na frequência de sair de casa para comprar alimentos (68,9%) e para realizar refeições fora do domicílio, seja em estabelecimentos comerciais (74,4%) ou na casa de pessoas conhecidas (72,9%). Tais tendências de diminuição, justificadas pelas recomendações de distanciamento social como recurso para enfrentar a disseminação do vírus, são mais ou menos frequentes a depender dos marcadores socioeconômicos analisados, destacadamente, de sexo, raça ou cor, renda e situação de segurança alimentar e nutricional. Em relação às práticas de aquisição de alimentos, verifica-se que o ambiente alimentar digital passou a ser mais amplamente usado, sejapor meio da compra pela internet ou aplicativos de supermercados com entrega em domicílio (e-commerce) ou por meio de serviços de entrega de comida (delivery). Essa tendência foi observada tanto entre usuários já familiarizados com esses canais quanto entre novos adeptos. Em contrapartida, as feiras livres passaram a ser menos frequentadas pelas/os entrevistadas/os no primeiro ano da pandemia, com uma redução de frequência de 66,1% entre aqueles que utilizavam este serviço antes da pandemia. Essa mudança na prática de aquisição de alimentos pode representar, por um lado, maior exposição a alimentos ultraprocessados e refeições com perfil nutricional desfavorável, e, por outro, menor acesso a canais de comercialização de alimentos in natura e mais saudáveis. Finalmente, também significa uma maior tendência de compra de alimentos em grandes redes de supermercados e enfraquecimento de comerciantes de feiras livres. Considerando que momentos de crise, como a pandemia do Covid-19, podem tanto abrigar possibilidades abruptas de transformação nos sistemas alimentares, como fortalecer estruturas desiguais na produção, distribuição e consumo de alimentos, nossos dados apontam para a concentração de mais poder na cadeia de alimentos do sistema alimentar dominante e para exacerbação de desigualdades alimentares.
Food for Justice: Power, Politics and Food Inequalities in a Bioeconomy
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